1 de dezembro de 2013

Sim alguém




Obrigo os olhos na tarefa de olhar, obrigo os olhos a ver, tentar encontrar no horizonte aquilo que sempre julguei lá ver e tudo não são mais que pontos, os pontos onde foco os olhos, todos os pontos, como sempre, que estão onde os vejo e nunca onde os queria ter para os fazer ver.
Queria poder olhar o horizonte sem ter que me focar num ou mais pontos, queria ter como conseguir ver para lá de pontos algures naquilo que é horizonte.
Que de mim sufoco, que de mim já não posso respirar, de mim sou menos que um palhaço com falta de circo, actor sem palco, declamador sem texto, pintor sem cor.
Esfrego-me até as pálpebras irritadas arderem de dor e ficar estúpido sem achar melhorias no que vejo, no que pensava encontrar e obviamente agora não consigo ver. Desfocado, enevoado, os olhos demasiados grandes e lacrimosos para onde deveriam estar.
Não me ponho a ver, sequer verificar o horário do navio que apanhaste, não vou gastar as minhas horas no saber do teu ir, quando foste. Antes de te mexeres já tinha dito ao mestre para zarpar.
Pois que me obrigo a ver através destes olhos magoados mas não da tua ausência e sim, por muita luz, não porque o vento sopra imensa coisa, até poeiras, e que são areia e magoam até na pele.
A pele, que me suporta as veias, a pele que me contem os músculos e as veias. A pele que me reveste sem eu reparar que existe, e sim, alguém me ama, alguém me tem.


  2010