Obrigo os
olhos na tarefa de olhar, obrigo os olhos a ver, tentar encontrar no horizonte
aquilo que sempre julguei lá ver e tudo não são mais que pontos, os pontos onde
foco os olhos, todos os pontos, como sempre, que estão onde os vejo e nunca
onde os queria ter para os fazer ver.
Queria poder
olhar o horizonte sem ter que me focar num ou mais pontos, queria ter como
conseguir ver para lá de pontos algures naquilo que é horizonte.
Que de mim
sufoco, que de mim já não posso respirar, de mim sou menos que um palhaço com
falta de circo, actor sem palco, declamador sem texto, pintor sem cor.
Esfrego-me até
as pálpebras irritadas arderem de dor e ficar estúpido sem achar melhorias no
que vejo, no que pensava encontrar e obviamente agora não consigo ver. Desfocado,
enevoado, os olhos demasiados grandes e lacrimosos para onde deveriam estar.
Não me ponho a
ver, sequer verificar o horário do navio que apanhaste, não vou gastar as
minhas horas no saber do teu ir, quando foste. Antes de te mexeres já tinha
dito ao mestre para zarpar.
Pois que me
obrigo a ver através destes olhos magoados mas não da tua ausência e sim, por
muita luz, não porque o vento sopra imensa coisa, até poeiras, e que são areia
e magoam até na pele.
A pele, que me
suporta as veias, a pele que me contem os músculos e as veias. A pele que me
reveste sem eu reparar que existe, e sim, alguém me ama, alguém me tem.
2010